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A importância de uma boa saúde oral desde tenra idade

Portugal enfrenta uma situação crucial. Se não resolvermos o problema da falta de saúde oral dos mais pequenos, arriscamos o futuro de toda uma geração e, por meio dela, o potencial de crescimento do nosso país.



No meu dia-a-dia como odontopediatra em Torres Vedras e Setúbal, atendo diariamente crianças com problemas dentários severos. As crianças, muitas com menos de quatro anos de idade, apresentam graves lesões de cárie, muitas vezes maloclusões e por isso uma necessidade de intervenção emergente. Elas não sabem, mas são privilegiadas: a maior parte destes pais absorvem parte das suas economias para investir na saúde oral dos seus filhos.


Muitos dos pais que me procuram fazem-no porque não foi possível o atendimento dos seus filhos em anteriores tentativas. Tratar crianças requer conhecimento e habilidades especiais. Não se pode atender crianças como se fossem adultos em ponto pequeno.

Quando os pais agendam uma consulta para mim, reconheço que muitos me vêem como a sua última esperança. Alguns deles viajam horas para chegarem à clinica. Com a agenda cheia, penso muitas vezes nas crianças que, nas mesmas condições, não têm a oportunidade de receber tratamento.


Segundo um inquérito recente, dois em cada cinco portugueses viram-se obrigados a reduzir as despesas este Natal. Na zona do euro, o cinto continua a apertar: as taxas de juro estão a subir, a inflação está em alta. Enquanto isso, os salários estão praticamente estagnados.


O que acontece com a saúde oral, quando as famílias têm dificuldade em assegurar o pagamento da renda da casa e a comprar comida? E o que acontece quando os problemas relacionados à saúde oral permanecem sem tratamento?

Se nós, como país, não conseguimos assegurar os cuidados de saúde oral aos nossos filhos - como podemos esperar que o resto do mundo nos leve a sério em outras questões?

Como médicos-dentistas, todos sabemos a importância de uma boa saúde oral desde tenra idade. Ter dentes saudáveis quando crianças, molda o seu futuro. (Os primeiros dois anos de vida, a contar desde o momento da concepção, são os mais importantes na determinação da saúde do adulto).


Dentes saudáveis são importantes na mastigação, para a articulação das palavras, para a auto-estima e, por extensão, aumentam as chances de encontrar um parceiro e de conseguir um emprego. Queremos que a próxima geração seja privada destes benefícios?

Sou médica-dentista desde 2002, exerço prática exclusiva em odontopediatria e ortodontia desde 2008 e em 2017 conquistei o título de especialista pela OMD. Optar pelo atendimento de crianças foi algo que aconteceu por acaso. Nenhum dos colegas com que trabalhei tinha interesse em tratar crianças, e foram-me pedindo para atender alguns pacientes. Em poucos meses mergulhei numa verdadeira aventura e cedo percebi que era com as crianças que me realizava (também) profissionalmente.


Muitas crianças entravam no consultório com dor e sorrisos fechados. Aos que devolvia a estética dos dentes anteriores - ainda dentes de leite - agradeciam no final com sorrisos rasgados e olhos incrédulos. Os pais contavam agradecidos, que os seus filhos não conseguiam parar de sorrir desde que saíam do consultório, que mostravam os dentes com orgulho a todos os que por eles passavam.


Desde então, ajudar os pequerruchos a terem uma vida plena, sem se limitarem aos dentes, é o que me faz levantar da cama todas as manhãs.

Mas se eu dissesse que foi uma jornada fácil para mim, estaria a mentir.

Há oito anos perdi o meu emprego de um dia para o outro e não sabia o que fazer. Às vezes até duvidava se algum dia teria a oportunidade de voltar a exercer a profissão da mesma forma que teria construído até então.


Eu tinha quase quarenta anos, velha demais para re-ingressar no mundo do trabalho, e segundo as mesmas premissas de um recém-licenciado.

Um encontro inesperado e uma oferta aberta que não pude recusar mudaram minha vida. Sem remuneração, mas com a oportunidade de me manter ativa profissionalmente, integrei a equipa da ASOT - Associação de Beneficência para a Saúde Oral Torreense - uma organização fundada por um grupo de médicos-dentistas de Torres Vedras, que garante o tratamento dentário a famílias desfavorecidas. Durante dois anos atendi crianças cujos pais valorizavam os cuidados de saúde oral, apesar de não conseguirem suportar financeiramente os tratamentos dentários.


Na ASOT aprendi muito. Aperfeiçoei as minhas habilidades em tratar crianças com graves problemas dentários, mas, acima de tudo, percebi que todos nós podemos enfrentar as mesmas dificuldades financeiras que muitos daqueles pais vivenciavam. Os pais que conheci poderiam ser qualquer um de nós. E, no entanto, não havia nada que distinguisse os seus filhos daqueles cujos pais podiam pagar. Todos eles estarão envolvidos na construção do Portugal do futuro.


Carrego com orgulho as experiências que vivi na ASOT. Através dessa experiência identifiquei questões que devem ser abordadas se queremos, de facto, intervir de forma assertiva nos problemas que enfrentamos:

Deve ser possibilitado o acesso à medicina dentária, a todas as famílias.

Pais e educadores, devem entender o quão importante é a saúde oral desde tenra idade.

Precisamos instruir a população e investir na prevenção.

A aposta na formação especializada em odontopediatria deve a ser uma prioridade.

Com a Especialidade em Odontopediatria nasceu também um crescente interesse por esta área, esquecida e desvalorizada durante algumas décadas. As redes sociais começaram a disparar informação sobre os cuidados de saúde oral nas crianças e alguns colegas destacaram-se dando um importante tributo à instrução e prevenção. Mas sabemos não ser suficiente…


Não tenho influência no sistema escolar português. Não posso intervir no funcionamento do sistema tributário. Não consigo perspectivar o impacto que teria o sector da saúde, com uma distribuição diferente do dinheiro dos impostos. Mas posso afirmar que, da forma como a realidade se apresenta hoje, nós - como país - estamos a falhar com uma geração de crianças que precisam de ajuda. Eu recuso-me a desistir e acredito que podemos fazer muito.


Juntamente com os meus colegas Bárbara Areal e Vítor Freitas, realizo há dois anos, no Porto, uma formação para médicos-dentistas que pretendem melhorar as suas competências no tratamento odontopediátrico. O projeto Odontopediatria Know-How é um curso modular teórico-prático e com uma forte vertente clínica que garante a todos os formandos a aplicação clínica de todos os conceitos imediatamente após o primeiro módulo. Na Residência Clínica Odontopediátrica, que desenvolvo em Setúbal, na Clínica Medifranco, prometo uma formação individualizada de três dias, para colegas que se identifiquem com a minha filosofia de atendimento e queiram saber tudo acerca da mesma.


É certo que são passos pequenos, num caminho que se vislumbra longo. Sei que muito mais precisa ser feito. A iliteracia na saúde oral é uma realidade que afeta o público em geral mas também a classe política.


Através das redes sociais, da comunicação social e dos congressos e reuniões de especialidade podemos fazer mais para ajudar a espalhar o conhecimento.


Somente envolvendo mais pessoas a mudança será possível.

Sei que não é fácil, entendo que muita coisa precisa mudar para que a saúde oral das crianças em Portugal seja um direito e não apenas uma oportunidade. Para que os casos complexos de reabilitação deixem de nos bater à porta, mas os que surjam sejamos todos capazes de resolver ou encaminhar. Não disponibilizando a solução imediata, posso no entanto prometer, aqui e agora, que nos próximos anos farei o possível para promover essas questões.


E espero, ao longo da jornada, conseguir o apoio, a companhia e o compromisso de muitos de vós. Juntos trabalhamos diariamente para ajudar crianças, pais e Portugal… não limitemos esse trabalho às clínicas.


 
 
 

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